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A superdotação é uma condição neurodivergente ainda cercada por mitos e desinformação. Muitas vezes, crianças superdotadas são erroneamente diagnosticadas com algum transtorno de desenvolvimento ou de comportamento, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou o Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD). Apesar de poderem compartilhar algumas características superficiais, superdotação não é um transtorno, e compreendê-la em sua complexidade é essencial para oferecer suporte adequado.
Neste artigo, exploraremos as principais semelhanças e diferenças entre superdotação e os transtornos citados, com base em pesquisas científicas, diretrizes legais brasileiras e contribuições de especialistas na área da educação e da psicologia.
Superdotação é uma condição em que o indivíduo apresenta habilidades muito acima da média em uma ou mais áreas do conhecimento humano, como cognição, criatividade, liderança, talento artístico ou psicomotor. De acordo com a definição do Ministério da Educação (MEC), pessoas com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) demonstram:
Superdotação não é considerada um transtorno, mas uma necessidade educacional especial reconhecida por leis brasileiras como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, nº 9.394/1996) e a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008).
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação social e comportamentos repetitivos e restritivos (APA, 2013). Pode haver hiperfoco, hipersensibilidades sensoriais e interesses específicos intensos.
O TDAH é um transtorno neurobiológico caracterizado por desatenção, impulsividade e/ou hiperatividade. É um dos transtornos mais diagnosticados na infância e pode persistir até a vida adulta (Barkley, 1998).
O TOD envolve comportamentos negativistas, desafiadores e desobedientes persistentes, especialmente em contextos de autoridade. É um transtorno comportamental que afeta a convivência familiar e escolar (DSM-5, 2013).
É importante reforçar que a superdotação não é um transtorno. No entanto, por suas manifestações intensas, como alta energia, questionamentos incessantes, pensamento divergente e sensibilidade emocional, muitas vezes é confundida com condições clínicas. Essa confusão pode gerar diagnósticos equivocados ou subnotificações — o que compromete o desenvolvimento da criança.
Tanto crianças superdotadas quanto com TDAH podem parecer inquietas e impulsivas. No entanto, no caso da superdotação, essa inquietude pode ser motivada pelo tédio em ambientes pouco desafiadores. Já no TDAH, a impulsividade tende a ser mais constante e descontextualizada (Silverman, 2009).
No TEA, o foco intenso pode se manifestar como hiperfoco em temas específicos. Em superdotados, o foco também pode ser profundo, mas costuma estar associado a criatividade, múltiplos interesses e desejo por aprendizado acelerado.
Crianças superdotadas muitas vezes questionam regras e demonstram pensamento crítico, o que pode ser interpretado erroneamente como desafio à autoridade — uma das marcas do TOD. No entanto, o comportamento opositor no TOD tende a ser intencional e persistente, enquanto na superdotação ele geralmente tem base lógica.
Há casos em que a superdotação e algum transtorno coexistem. Isso é conhecido como dupla excepcionalidade (2E – Twice Exceptional). A presença simultânea de AH/SD e TEA ou TDAH, por exemplo, exige atenção especializada.
Segundo Baum et al. (2014), crianças 2E muitas vezes têm seus talentos mascarados pelas dificuldades, ou vice-versa. Isso pode levar a:
Característica | Superdotação | TEA/TDAH/TOD |
---|---|---|
Motivação | Alta e intrínseca | Pode ser baixa ou oscilante |
Curiosidade | Intensa, abrangente | Restrita (TEA) ou desorganizada (TDAH) |
Criatividade | Elevada | Pode estar comprometida |
Sociabilidade | Variável, mas geralmente presente | Dificuldades em TEA; impulsividade em TDAH |
Resposta a limites | Questiona por lógica | Oposição sistemática (TOD) ou impulsiva (TDAH) |
Habilidades cognitivas | Acima da média | Podem ser desiguais ou abaixo da média |
A avaliação diferenciada é essencial para separar o que é superdotação do que é transtorno. O uso de instrumentos padronizados, observações clínicas e entrevistas com a família são fundamentais para:
Conforme diretrizes do Conselho Federal de Psicologia e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Especial (Resolução CNE/CEB nº 2/2001), a avaliação da superdotação deve ser feita por equipe qualificada, preferencialmente com profissionais da psicologia e da pedagogia.
Uma criança superdotada que é confundida com um transtorno pode:
Por isso, as escolas devem investir em formação docente, observação sensível e diferenciação pedagógica, respeitando o direito à educação inclusiva de qualidade conforme assegura o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015).
A seguir, destacamos as principais leis que garantem os direitos educacionais e sociais das pessoas com superdotação, diferenciando-as de contextos clínicos de transtorno:
Ao contrário dos tratamentos farmacológicos ou terapias voltadas a transtornos, pessoas superdotadas se beneficiam de:
A confusão entre superdotação e transtornos como TEA, TDAH e TOD pode ter consequências profundas para o desenvolvimento das crianças. Embora compartilhem características superficiais, a superdotação não é um transtorno, mas sim uma forma de neurodivergência que requer reconhecimento, estímulo e apoio específicos.
A chave para uma abordagem correta está na avaliação multidisciplinar e no entendimento de que cada criança é única em sua expressão cognitiva, emocional e social. Garantir os direitos das crianças superdotadas é promover equidade na educação e no desenvolvimento humano.
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